Nasceu no banco de trás do carro, aliás, nasceu não, foi contrariadamente gerada, e de certa forma era assim que sempre seria gerida, durante a vida toda foi comandada, as certezas eram sempre as mesmas, de que um dia a filha sofreria o mesmo que a mãe, de que a dor se perpetuaria, tudo se entrelaçaria e não teria mais fim, o universo em explosão. Foi assim que ela veio ao mundo, no banco de trás do carro sujo, abandonado, ela não nasceu, o útero da sua mãe a abandonou aos nove meses de vida, como tudo o que fica insuportável, insustentavelmente acertado na contradição da direção. Cem horas ou cinco dias depois tudo acaba tão rapidamente quanto um tiro dado no guarda-roupas, quanto um lampejo de assombro, e a filha continua lá, criada pelo mundo, malcriada e desobediente, ingrata tanto quanto a vida será com ela, na sua cova cavada a beira da cama de onde nascera. Ela é uma lágrima da espectadora do cine Copacabana, ela é o motivo do retrogosto amargo de hoje, da comida que foi menos saborosa, do vinho que foi meio adstringente, do queijo que parecia salgado, ele é a materialização daquilo que ouvíamos falar, que parecia irreal, mas tudo se resume à uma solução, à solução do problema dela, dê-lhe casa, comida e o Brasil agradece, mas agradece só se ela não tiver um filho assassino e viciado solto pelo mundo, agradecemos se ela se manter casta, insólita, sexo é para ricos, para os pobres só resta a TV, o bar e a cachaça sagrada tanto quanto a vontade de provar pra todo mundo que minha casa pode ter sofá, mesa e rádio a pilha, pode ser no morro mas ter vista pro mar, mar de carros, transeuntes transviados, carros atabalhoados, corredores mortíferos, coisas mecanicamente atiradas pela janela, pontes suspensas no ar, ensaios do que dizer. Olhando de lá de cima o que será que eles imaginam que ocorre lá em baixo? Será que existe alguma noção das preocupações que o trabalhador medíocre sofre no transito parado? Ou será que eles nem veem o que acontece nas ruas, é tudo embaralhado e simplesmente incompreensível pra cabeça do morro? Como são separadas as coisas, que maneira mais infecta, a estrada corta a favela e se esteriliza por cima de um rio venenoso que impede as pessoas de cruzarem a linha minada que separam todos os tipos de pobreza, cada uma do seu lado, cada qual com sua coerência, a que melhor lhe convier. Corram, é domingo, logo logo acaba o dia de visita.
Quanto maior a palavra, é por que mais ela me irrita
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Pedro Lacerda, filho de Robson Lopes e Marivalda Lacerda, do Vale do Jequitinhonha.
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