Pedro estava sentado em seu lugar, sem incomodar ninguém, sem ser incomodado, mas acontece que este lugar onde Pedro estava não era o bastante para ele, uma cadeira com rodinhas, assento de couro e encosto alto, tudo o que garante e proporciona conforto. Confortavelmente sedado Pedro se levantou e cambaleante foi até a vitrola, levantou a agulha e ao invés de tomar às ruas e desencadear uma revolução, virou a bolacha, desceu a agulha e cambaleante retornou ao brie e ao petit verdot. A revolução pode esperar, ela espera até o dia em que se torna insuportável, até o dia em que aquele lugar não for mais confortável. No momento, a única coisa que interessava a Pedro era o terroir que desenlaçava suas pistas em seu nariz, era o lugar privilegiado que toma sol abundante de dia e se refresca com o frio ameno da noite. Qual era o lugar em que Pedro queria estar é de fato um dilema, talvez quisesse ele o fim da vida, as homenagens, os cumprimentos, mas sem antes ter que passar pelos outros lugares onde deixaria um traço. Talvez quisesse a lamúria, talvez não quisesse nada. Aquela cadeira de couro parecia bem confortável, aqueles olhos bem resignados e aquela tristeza bem sóbria. Não há melhor lugar para isso, por mais que o mundo fosse o lugar onde as coisas acontecessem. E onde as coisas acontecem afinal? Teatro Municipal de São Paulo? Calçadão de Copacabana? Baía dos Porcos? Também. Mas Pedro crê que cada ato, antes, sai da pena de alguém, e por isso o lugar é subjetivo, afinal, como é possível interferir no mundo sem olhar pra ele? Mesmo que se fale da subjetividade alheia, Pedro sabia que aquela visão que ele tinha de sua cadeira era algo singular, Pedro também infelizmente sabia que se levantasse teria outras perspectivas, outras pessoas pra lhe dizer as suas opiniões, seus malogros, suas verdades. O lugar que o incomoda, que lhe gera angustia, é o mesmo lugar que todos os outros habitam. Mas um dia, um dia qualquer no mundo, o dia para Pedro, aquele dia foi o dia em que Pedro pensou, ousou e finalmente praticou se levantar. E os lugares tornaram-se palco. Existem lugares privilegiados para cada tipo de anseio, de ensaio, de insistência, de papel. Existem lugares que não existem ainda, e é sobre eles que mais é regozijante pensar. Mas enfim, Pedro não pensa, tampouco vive, observa quem sabe, sofre as consequências, se ilude, se frustra, sente prazer, alegria, chora. Tudo isso tem hora e lugar. Pedro sabe a que lugar pertence, mas não sabe se quer pertencer a ele, talvez.
Quanto maior a palavra, é por que mais ela me irrita
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Pedro Lacerda, filho de Robson Lopes e Marivalda Lacerda, do Vale do Jequitinhonha.
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“Pedro crê que cada ato, antes, sai da pena de alguém, e por isso o lugar é subjetivo, afinal, como é possível interferir no mundo sem olhar pra ele?”
…é possível imaginar todo ato escrito, pensando, elaborado e encenado por alguém. Ao ler o texto, pensei: quem escreveu o ato que criou a existência de Pedro? E que criou a existência daqueles que o criaram a assim por diante? E a existência de um ser humano é algo tão confuso, tão dramático, tão subjetivo que necessita do cotidiano para ter a pedra da objetividade atada aos pés. Senão voaríamos. E todo o cenário “noir”, toda a atmosfera sinestésica do primeiro capítulo envolve-o em uma espécie de sonho, de um “espetáculo que o torna personagem, ser vivente, e o escritor do próprio destino. Enfim, Pedro (o real, meu amigo, hehehe) isso foi o que entendi do conto – vc define como conto? – e continuarei acompanhando a saga do Pedro (o fictício).
E apesar da súplica para que não pensem que é você, só colocamos no “papel” (digo papel porque sou um romântico incorrigível, hehehe) nossa essência…70% do que escrevemos constitui-se de nós mesmos!!! (De acordo com estudo da Univ. de Colúmbia, EUA – hehehehe).
Serei muito menos prolixo que nosso amigo Odair… hahaha
A impressão que tenho é que o texto todo se passou em menos de um segundo na mente desse Pedro. E o final, o adendo explicando quem é esse Pedro, é fantástico.
E Pedro, meu velho, esse Pedro que descreveu somos nós (não eu e você), mas nós…
“Confortavelmente sedado”? Penso se a vitrola naquele momento não estava tocando Pink Floyd.